quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Brasil é todo brasileiro

Para nós pensarmos, refletirmos bem... O que é Brasil? Quem é o Brasil? Diferenças importam tanto assim? E importam em que? Ter opiniões e posicionamentos políticos diferentes é natural e direito de todos, agora preconceito e imposições...





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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O amor acaba

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba. 

 (Paulo Mendes Campos)

Texto extraído do livro "O amor acaba", Editora Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 1999, pág. 21, organização e apresentação de Flávio Pinheiro. 


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terça-feira, 21 de outubro de 2014

Mantras para Vida - Deva Prema & Miten com Manose


Eu poderia dizer que foi lindo, mas... foi mais que lindo. Foi sublime. Uma experiência que eu jamais esquecerei. Deva Premal e Miten com o maestro Manose estiveram em turnê em Porto Alegre no dia 20 de outubro e tive a alegria de assistir o show ao lado da amiga e artista Denise de Freitas. Foi mágico. O show durou em torno de 3 horas, 3 horas de muita meditação, música e boa energia.
Deva, Miten e Manose são pessoas maravilhosas e carismáticas, são artistas de alma (aquele que você percebe que está sentindo a música, vivendo a música). Eles cantaram Gayatri, Om Tare, Ide were, entre outros. Também cantaram uma canção linda em língua portuguesa, emocionando a todos.
Não foi um simples show, não houve apenas um desempenho artístico incrível. Não. Foi uma apresentação com tudo isso, mas também um momento de cura, de amor, de conexão e descoberta. E sim, sou fã deles e posso dizer com tranquilidade que quero vê-los tocando ao vivo muitas e muitas vezes.
No final do show, tive a alegria de poder entregar um Mosaicos para o maestro Manose, um pequeno presente meu para esses três grandes artistas.

Michelle e Manose. (Fotografia: Denise de Freitas)


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segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Poema Diário

Poema Diário, é um blog de autoria de Daniel Russel Ribas. Como o próprio autor explica, é " um blog em que diariamente é postado um poema diferente de autores diversos, vivos e mortos. Trata-se de uma iniciativa de divulgação de material criativo, sem fins lucrativos."
O bacana dessa proposta é ver autores renomados ao lado de autores novos, é um diálogo interessante entre diversos estilos literários. No Poema Diário você encontra Rimbaud, Drummond, Bandeira, Celília Meireles, Alfonisa Storni e por aí vai. Outro ponto interessante, são os poemas escolhidos pela sensibilidade de Ribas... muitas vezes somos apresentados a poetas que nunca tínhamos ouvido falar antes, o poema eleito funciona como um cartão de visitas, estimulando a nossa curiosidade para conhecer mais do autor escolhido. Há quem diga ainda que o poema diário, muitas vezes, funciona como o mantra que desenha aquele dia. Aí, é claro, vai muito da identificação de cada um!
E aí, que tal dar um conferida lá e saber que poema o Ribas escolheu hoje para gente?





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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Olhos Parados - Manoel de Barros

a Mário Calábria


Ah, ouvir mazurcas de Chopin num velho bar, domingo
de manhã!
Depois sair pelas ruas, entrar pelos jardins e falar
com as crianças.
Olhar as flores, ver os bondes passarem cheios de
gente,
E encostado no rosto das casas, sorrir...

Saber que o céu está lá em cima.
Saber que os olhos estão perfeitos e que as mãos estão
perfeitas.
Saber que os ouvidos estão perfeitos. Passar pela
Igreja.
Ver as pessoas rindo. Ver os namorados cheios de
ilusões.

Sair andando à-toa entre as plantas e os animais.
Ver as árvores verdes do jardim. Lembrar das horas
mais apagadas.
Por toda a parte sentir o segredo das coisas vivas.
Entrar por caminhos ignorados, sair por caminhos
ignorados.

Ver gente diferente de nós nas janelas das casas, nas
calçadas, nas quitandas.
Ver gente conversando na esquina, falando de coisas
ruidosas.
Ver gente discutindo comércio, futebol e contando
anedotas.
Ver homens esquecidos da vida, enchendo as praças,
enchendo as travessas.

Olhar, reparar tudo em volta, sem a menor intenção
de poesia.
Girar os braços, respirar o ar fresco, lembrar dos
parentes.
Lembrar da casa da gente, das irmãs, dos irmãos e dos
pais da gente.
Lembrar que eles estão longe e ter saudades deles...

Lembrar da cidade de onde se nasceu, com inocência, e
rir sozinho.
Rir de coisas passadas. Ter saudades de pureza.
Lembrar de músicas, de bailes, de namoradas que
a gente já teve.
Lembrar de lugares que a gente já andou e de coisas
que a gente já viu

Lembrar de viagens que a gente já fez e de amigos que
ficaram longe.
Lembrar dos amigos que estão próximos e das
conversas com eles.
Saber que a gente tem amigos de fato!
Tirar uma folha de árvore, ir mastigando, sentir
os ventos pelo rosto...

Sentir o sol. Gostar de ver as coisas todas.
Gostar de estar ali caminhando. Gostar de estar assim
esquecido.
Gostar desse momento. Gostar dessa emoção tão cheia
de riquezas íntimas.
Pensar nos livros que a gente já leu, nas alegrias dos
livros lidos.

Pensar nas horas vagas, nas horas passadas lendo as
poesias de Anto.
Lembrar dos poetas e imaginar a vida deles muito
triste.
Imaginar a cara deles como de anjos. Pensar em
Rimbaud,
Na sua fuga, na sua adolescência, nos seus cabelos cor
de ouro.

Não ter idéia de voltar para casa. Lembrar que a
gente, afinal de contas,
Está vivendo muito bem e é uma criatura até feliz.
Ficar admirado.
Descobrir que não nos falta nada. Dar um suspiro bom
de alívio,
olhar com ternura a criação e ver-se pago de tudo.

Descobrir que, afinal de contas, não se possui
nenhuma queixa
E que se está sem nenhuma tristeza para dizer no
momento.
Lembrar que não sente fome e que os olhos estão
perfeitos.
Para falar a verdade, sentir-se quite com a vida.

Lembrar dos amigos. Recordar um por um.
Acompanhá-los na vida.
Como estão longe, meu Deus! Um aqui. Outro lá, Tão
distantes...
Que fez deste o destino? E daquele?
Quase vai se esquecendo do rosto de um... Tanto
tempo!

Ter vontade de escrever para todos os amigos.
Ter vontade de lhes contar a vida até o momento
presente.
Pensar em encontrá-los de novo. Pensar em reuní-los
em torno de uma mesa,
Uma mesa qualquer, em um lugar que a gente ainda não
escolheu.

Conversar com todos eles. Rir, cantar, recordar
os dias idos.
Dar uma olhadela na infância de cada um. Aquele
era magro, Venício...
Aquele outro era gordo, Abelardo...Aquele outro
era triste.
Ai, não esquecer jamais este último, porque era
um menino triste.

Como andarão agora? Naturalmente, mais velhos,
Talvez eu não conhecerei alguns. Naturalmente, mais
senhores de si.
Imaginar todos eles com ternura. Pensar nos mais
fracos,
Naqueles, naturalmente, para quem o mundo deve ter
sido menos bom.

Pensar que eles já vêm. Abrir os braços.
Procurar descobrir, no mundo que os envolve,
Alguma voz que tenha acento parecido,
Algum andar que lembre o andar longínquo
de algum deles...

Ah como é bom a gente ter infância!
Como é bom a gente ter nascido numa pequena
cidade banhada por um rio.
Como é bom a gente ter jogado futebol no Porto de
dona Emília, no Largo da matriz,
E se lembrar disso agora que já tantos anos são
passados.
Como é bom a gente lembrar de tudo isso. Lembrar
dos jogos à beira do rio,
Das lavadeiras, dos pescadores e dos meninos do Porto
Como é bom a gente ter tido infância para poder
lembrar-se dela.
E trazer uma saudade muito esquisita escondida no
coração.

Como é bom a gente ter deixado a pequena terra em
que nasceu
E ter fugido para uma cidade maior, para conhecer
outras vidas.
Com é bom chegar a este ponto de olhar em torno
E se sentir maior e mais orgulhoso porque já conhece
outras vidas...

Como é bom se lembrar da viagem, dos primeiros dias
na cidade,
Da primeira vez que olhou o mar, da impressão de
atordoamento.
Como é bom olhar para aquelas bandas e depois
comparar.
Ver que está tão diferente, e que já sabe tantas
novidades...
Como é bom ter vindo de tão longe, estar agora
caminhando
Pensando e respirando no meio de pessoas desconhecidas
Como é bom achar o mundo esquisito por isso,
muito esquisito mesmo
E depois sorrir levemente para ele com os seus
mistérios...

Que coisa maravilhosa, exclamar. Que mundo
maravilhoso, exclamar.
Como tudo é tão belo e tão cheio de encantos!
Olhar para todos os lados, olhar para as coisas mais
pequenas,
E descobrir em todas uma razão de beleza.

Agradecer a Deus, que a gente ainda não sabe
amar direito,
A harmonia que a gente sente, vê e ouve,
A beleza que a gente vê saindo das rosas; a dor
saindo das feridas.
Agradecer tanta coisa que a gente não pode acreditar
que esteja acontecendo.
Lembrar de certas passagens. Fechar os olhos para ver
no tempo.
Sentir a claridade do sol, espalmar os dedos, cofiar
os bigodes,
Lembrar que tinha saído de casa sem destino, que
passara num bar, que ouvira uma mazurca,
E agora estava ali, muito perdidamente lembrando
coisas bobas de sua pequena vida.

Vazios Volúveis - Leonardo MAthias



Vazios não tão vazio, vazios com sussurros, vazios oscilantes. Vazios Volúveis, exposição do artista paulista, Leonardo MAthias, em cartaz na galeria Arte&Fato até o dia de hoje, 10 de outubro.
O quanto o vazio é vazio? Essa pergunta ficou soando em minha mente enquanto eu me aventurava na exposição, ao lado da doutoranda em psicologia, Clarissa de Freitas. Vazios Volúveis tem algo de contemplativo, ousado, criativo e também perturbador. Perturbador, especialmente, porque provoca com a volubilidade do vazio, seus intervalos, os sussurros pairando no silêncio que tocam e sacodem a alma, levando-nos a um estado de perplexidade e reflexão. Tem o eco de um grito em Vazios Volúveis, tem intervalos de vidas, o confronto e o encontro do rosa com o azul, do azul com o rosa.
Clarissa me apontou para o diálogo que ocorria dos objetos expostos com os desenhos, o quanto um objeto pode ser lido de outra forma, sem deixar de ser o objeto, sem deixar de ser um fragmento da verdade. Também nos atentamos ao uso da transparência, da sobreposição, que provocam uma quebra: o quanto o que se vê é de fato o "objeto real"? Há uma brincadeira entre essa visão turvada, as quebras de tempo, as sobreposições construindo uma realidade que transita pela ordem do interno e teima em cruzar para o externo. Tem algo de poético, algo de repouso que oscila com momentos de conflito. A noite também se faz presente em Vazios Volúveis, a noite que muitas vezes é acompanhada do feminino. A noite que às vezes é um estado de alma... e o feminino que se mistura ao ambiente, tão sutilmente e tão presente, quanto a fragrância de um perfume que toma conta de um espaço.
Vazios Volúveis é uma experiência que acaba tocando todos os sentidos. Vazios nem sempre são tão vazios assim...



Horário: 14h às 19h (2ª a 5ª feiras) / 11h às 17h (6ª)
Local: Arte&Fato Galeria
Endereço: Avenida Protásio Alves, 1.893 - Petrópolis


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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

"Conto com poesia" com Michelle C. Buss e Moema Vilela


"Conto com poesia"
 Leituras e bate-papo com as escritoras Michelle C. Buss e Moema Vilela.
O encontro, produzido pela FestiPoa Literária Revisitada e Sampleada, reúne uma poeta e uma ficcionista para co...nversar sobre produção literária, ofício de escrita e leituras, com mediação do poeta e professor de literatura Guto Leite.
A terceira edição da atividade, que já contou com as participações de Paula Taitelbaum e Pedro Gonzaga, Cláudia Tajes e Everton Behenck.


Onde: Palavraria Livros & Cafés (rua Vasco da Gama, 165) 
Quando: 07/outubro, às 19h 
Entrada Franca



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