segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Rebirth Poem

se o dia acabar amanhã
que seja comendo chocolate
depois de passar a noite olhando estrelas
e decodificando o mistério da matéria escura
misturada aos filamentos de luz, gás e poeira
enquanto se é lembrado um antigo conto cherokee
contado por um avô que nunca existiu
mas que se faz presente com seu cachimbo
e seu sorriso maroto.


se for para acabar amanhã
que seja rindo para a solidão
e abraçando a tristeza
pra mostrar pra elas
que o afeto supera rótulos e energias.

se for para se ir amanhã
que seja enquanto se lê um poema de amor
daqueles que faz Drummond chorar de emoção
daqueles que faz a gente ter certeza que para todos existe
um pé de sapato velho à espera e
uma sintonia única.
que seja para ter certeza que o amor existe
mesmo que ele exista apenas em um poema.

se amanhã for o fim
que seja depois de ter orado e pedido perdão
a esse corpo que aturou tanto pensamento
desconexo
que seja pra dizer gratidão a esse corpo
que ensinou a sentir e se tornou a caixinha
de inúmeros desejos.

se amanhã for o último dia
que seja depois de tomar um suco de laranja bem doce
pra lembrar depois da vida
se tiver vida depois dessa
que há doçura no mundo
nem que seja no paladar.

se amanhã for o respiro final
que seja depois de consultar
memórias felizes
de amigos, de família, de conquistas
lembrar que existem coisas boas
mesmo que o bom seja apenas uma ilusão.

se o dia acabar amanhã
que seja depois de ter andado
pela natureza
pra retornar às raízes
e sentir a própria natureza
nem que seja isto a primeira e única vez.

se for pra acabar
que seja em pleno amanhecer
pra lembrar de amanhecer
mesmo que o dia acabe (...)


(Michelle C. Buss, do livro "Sal, topázio e mercúrio")



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Evoé
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sexta-feira, 27 de maio de 2016

DEZ CANÇÕES SEM AS QUAIS VOCÊ NÃO PODERÁ VIVER NEM MAIS UM SEGUNDO

Divulgando a campanha do artista Guto Leite. Vamos ajudá-lo! O trabalho dele é incrível! Segue abaixo a proposta:

"Faltam menos 20 dias para o fim da campanha de financiamento coletivo do meu primeiro disco físico DEZ CANÇÕES SEM AS QUAIS VOCÊ NÃO PODERÁ VIVER NEM MAIS UM SEGUNDO, que envolve uma porção de artistas bacanas do Rio Grande do Sul e de São Paulo.
É possível contribuir com qualquer valor, sendo que há recompensas físicas a partir de R$10,00 e o disco, que só será vendido durante o financiamento coletivo, pode ser comprado a R$35,00."

O link em que se pode fazer o apoio é este: https://www.catarse.me/dezcancoes 

Há diversos materiais (canções, poemas, filmes, fotos, vídeos etc.) a respeito do projeto na página de artista do Guto no Facebook: https://www.facebook.com/gutoleitemusic/


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terça-feira, 29 de março de 2016

Seminários de Psicologia Analítica

Espaço Arte-Ciência está promovendo os seus tradicionais Seminários de Psicologia Analítica, de março a dezembro, mensalmente nas quartas-feiras, das 20h às 22h. O tema trabalhado durante este ano será "Reflexões sobre o amor" através de debates, vídeos, vivências, leituras e apresentação de imagens. O investimento por seminário é de R$ 100,00. Mais informações consulte o folder abaixo ou acesso o site: www.espacoarteciencia.com.br


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Cinco poemas de Luís Filipe Sarmento

Cinco poemas do poeta português, Luís Filipe Sarmento. Em breve traremos a resenha do seu livro mais recente, "Efeitos de Captura"


Esta foto
captura-me
representa-me
autentifica-me
depois de morto.
No regresso à poesia
Rasgo-a.
O tempo não captura
o mistério do poema.

(Luís Filipe Sarmento, do livro "Efeitos de Captura", 2015)




As espumas tóxicas como subtilezas dos desastres
esvoaçam cegas ao encontro dos olhos de novas vítimas
para que a destruição seja total e o crime perfeito.
Rupturas e colisões esfregam os territórios condenados
como se o tempo fosse sucção eterna de medos.
Nada escapa à destruição e da destruição nada interessa
ao futuro, à reinvenção do lugar das ruínas.
Há textos que não se desejam como cinzas passadas,
como palavras desmontadas que não são letras
nem sílabas, mas ausências do que foram, pedaços cremados
de acções de pecado de autoria aparentemente anónima.
Há textos que se desejam como forno de destinos,
como modelo dos novos arquitectos que desenham a linguagem
do seu corpo ideológico e partem dos destroços para o deserto
das ideias destruídas; e erguem o novo edifício
com línguas que procuram no futuro e que projectam novos
desejos, novas harmonias, para que os sobreviventes
nascidos no último grito que a morte sufocou
sejam proclamados na festa da palavra. Novos afectos
do significado na tradução dos desígnios.
O novo fogo metafórico, a jovem cidade em busca de um país
que está no futuro, depois do ar de vidro onde a transparência
é tão natural como o idioma que emerge do esquecimento
do passado. E a terra continua a mover-se até que o Sol
lhe forneça o fogo distante.
Mover-se-á a linguagem em cada sopro dos lugares.


(Luís Filipe Sarmento, do livro "A Casa dos Mundos Irrepetíveis", 2015)




Esta é a Europa das fraudes, dos impedimentos, do desprezo
humano, da corrupção, das proibições, das barreiras,
dos muros da vergonha, das cortinas que escondem misérias,
do assalto às multidões. Esta é a Europa sem memória,
da festa dos eleitos em reuniões clandestinas em hotéis de luxo,
da manipulação, da destruição da esperança, do holocausto
programado. Esta é a Europa sem solidariedade,
que assassina a fraternidade entre povos, que vilipendia
a diferença, que envilece culturas, que promove mortandades.
Esta é a Europa da globalização da pobreza e da miséria,
da normalização digital das mentes, dos alimentos, das medidas,
das fardas virtuais, da descaracterização do homem regional.
Esta é a Europa dos criminosos, dos assassinos, dos corruptos,
dos títeres, das marionetas, dos vermes. Esta é a Europa
dos cadáveres, do sangue putrefacto, da prosa enlameada
pelos detritos das fortunas roubadas às nações. Esta é a Europa
que deflagrou a democracia, a política, o consenso,
a Europa que se suicida dia a dia nos cadafalsos da especulação,
dos famigerados mercados, das bolsas e dos seus carrascos.
Esta Europa é um imenso Vesúvio, de múltiplas crateras, o terramoto da vergonha, o dilúvio da ambição, o esgoto do caos.
Esta Europa é uma Comissão de loucos, fanáticos, cobardes,
o buraco negro da dignidade humana.

(Luís Filipe Sarmento, do livro "A Casa dos Mundos Irrepetíveis", 2015)




Na experiência do corpo
a impossibilidade total do objecto
risco de fronteira
a intemperança do olhar
reduz o kaos ao abysmo
dos sentidos;
mergulho livre
na exposição ao perigo
no horizonte de eventos
a boca inunda-se
de um dilúvio pleno
retomando o corpo perdido.

(Luís Filipe Sarmento)




Há olhos excessivos
que se excedem no que vêem;
a essência capta-se
no resgate transparente
da imagem que não reproduz:
polar níveo
de que se imagina
a morte.

(Luís Filipe Sarmento)




Luís Filipe Sarmento nasceu a 12 de Outubro de 1956. Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Escritor, Tradutor e Realizador de Televisão. Jornalista, editor, realizador de cinema e vídeo. Professor de Escrita Criativa. Alguns dos seus textos encontram-se traduzidos em inglês, espanhol, francês, italiano, mandarim, japonês, romeno, macedónio, croata e russo.




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Evoé
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