Vladimir Mayakovsky (Baghdati, Império Russo 19 de Julho de 1893 - Moscou, Rússia, 14 de Abril de 1930) é considerado um dos maiores poetas do século XX, ao lado de Ezra Pound e T.S. Eliot. Revolucionário, participou do partido bolchevique desde a década de 1910, divulgando o novo regime principalmente através de poemas e da confecção de cartazes. Sua poesia é revolucionária na forma e no fundo, uma arte extremamente elaborada. Criador excepcional, mestre no uso de rimas inusitadas, na veemência do discurso, na criação de imagens, hábil manipulador de signos, acreditava que “sem forma revolucionária não há arte revolucionária”. Foi também um ótimo artista gráfico, escreveu roteiros para o cinema, peças teatrais e um ensaio teórico. Influenciou profundamente a poesia de vanguarda mundial.
Em 1930, decepcionado com a realidade do seu ideal revolucionário e infeliz no amor (as paixões que teve, raramente correspondidas, não bastaram para saciar seu espírito pleno de utopias -- em uma carta para Lília Brik, o grande amor de sua vida, escreveu: “O amor é vida. O amor é o coração de tudo. Se ele interromper o seu
trabalho, todo o resto morre, faz-se excessivo, desnecessário.
(…) Sem você não há vida.”), disparou um tiro contra o próprio peito, pondo fim à sua intensa passagem por este mundo.
Segue o poema que Maiakóvski dedicou ao grande poeta russo Sierguéi Iessiênin, do qual era admirador, em resposta ao suicídio deste.
A SIERGUÉI IESSIÊNIN (Tradução de Haroldo de
Campos)
como se diz,
para o outro mundo.
Vácuo. . .
Você sobe,
entremeado às estrelas.
Nem álcool,
nem moedas.
Sóbrio.
Vôo sem fundo.
Não, lessiênin,
não posso
fazer troça, -
Na boca
uma lasca amarga
não a mofa.
Olho -
sangue nas mãos frouxas,
você sacode
o invólucro
dos ossos.
Sim,
se você tivesse
um patrono no "Posto"-
ganharia
um conteúdo
bem diverso:
todo dia
uma quota
de cem versos,
longos
e lerdos,
como Dorônin.
Remédio?
Para mim,
despautério:
mais cedo ainda
você estaria nessa corda.
Melhor
morrer de vodca
que de tédio !
Não revelam
as razões
desse impulso
nem o nó,
nem a navalha aberta.
Pare,
basta !
Você perdeu o senso? -
Deixar
que a cal
mortal
Ihe cubra o rosto?
Você,
com todo esse talento
para o impossível;
hábil
como poucos.
Por quê?
Para quê?
Perplexidade.
- É o vinho!
- a crítica esbraveja.
Tese:
refratário à sociedade.
Corolário:
muito vinho e cerveja.
Sim,
se você trocasse
a boêmia
pela classe;
A classe agiria em você,
e Ihe daria um norte.
E a classe
por acaso
mata a sede com xarope?
Ela sabe beber -
nada tem de abstêmia.
Talvez,
se houvesse tinta
no "Inglaterra",
você
não cortaria
os pulsos.
Os plagiários felizes
pedem: bis!
Já todo
um pelotão
em auto-execução.
Para que
aumentar
o rol de suicidas?
Antes
aumentar
a produção de tinta!
Agora
para sempre
tua boca
está cerrada.
Difícil
e inútil
excogitar enigmas.
O povo,
o inventa-línguas,
perdeu
o canoro
contramestre de noitadas.
E levam
versos velhos
ao velório,
sucata
de extintas exéquias.
Rimas gastas
empalam
os despojos, -
é assim
que se honra
um poeta?
-Não
te ergueram ainda um monumento -
onde
o som do bronze
ou o grave granito? -
E já vão
empilhando
no jazigo
dedicatórias e ex-votos:
excremento.
Teu nome
escorrido no muco,
teus versos,
Sóbinov os babuja,
voz quérula
sob bétulas murchas -
"Nem palavra, amigo,
nem so-o-luço".
Ah,
que eu saberia dar um fim
a esse
Leonid Loengrim!
Saltaria
- escândalo estridente:
- Chega
de tremores de voz!
Assobios
nos ouvidos
dessa gente,
ao diabo
com suas mães e avós!
Para que toda
essa corja explodisse
inflando
os escuros
redingotes,
e Kógan
atropelado
fugisse,
espetando
os transeuntes
nos bigodes.
Por enquanto
há escória
de sobra.
0 tempo é escasso -
mãos à obra.
Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
Os tempos estão duros
para o artista:
Mas,
dizei-me,
anêmicos e anões,
os grandes,
onde,
em que ocasião,
escolheram
uma estrada
batida?
General
da força humana
- Verbo -
marche!
Que o tempo
cuspa balas
para trás,
e o vento
no passado
só desfaça
um maço de cabelos.
Para o júbilo
o planeta
está imaturo.
É preciso
arrancar alegria
ao futuro.
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício
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