terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Amar, Verbo Intransitivo - Mário de Andrade



Publicado em 1927, Amar, Verbo Intransitivo, é o primeiro dos dois romances do modernista Mário de Andrade.
Não é difícil imaginar o espanto que causou na época do lançamento. Não só pela trama – o que por si só bastaria para alterar os ânimos puritanos dos anos 20 – mas também pela linguagem profundamente imbuída do espírito da Semana de Arte Moderna; em suma: radical reconstrução.
Um dos aspectos mais marcantes de toda obra de Mário de Andrade é a constante busca pelo português brasileiro, este que é falado pelos vizinhos de, pelos parentes todos de todo mundo, pelo passante qualquer de rua. Podemos então dizer que o narrador de Amar, Verbo Intransitivo, é antecessor daquele que iria ainda mais fundo em Macunaíma, segundo romance do autor, por ele classificado como rapsódia devido à variedade presente no mesmo livro.
A história, narrada e estruturada de forma tão peculiar e até cinematográfica, gira em torno da iniciação sexual de Carlos, clássico jovem burguês, pela alemã Elza Fräulein (simplesmente Fräulein), contratada pelo pai de Carlos, Souza Costa, justamente para "ensinar o amor" ao filho mais velho, mas oficialmente para ensinar piano e alemão aos quatro filhos do casal. E aqui se faz notar a influência de Freud no livro de Mário (um apaixonado pela obra do pai da psicanálise): a iniciação sexual é vista como base para uma vida adulta decente, daí a importância que seja segura, sem descontroles. O sexo é a força motriz.
O autor usa de muita inteligência e humor para criticar a burguesia paulistana da época; crítica que está presente não só na construção de personagens e nas relações entre si, mas também na descrição de elementos burgueses caricaturais, como a biblioteca em que os livros são comprados apenas para serem expostos, e muitos dos quais nunca foram abertos, muito menos lidos.
Com estrutura e tema incomuns, é um livro incomum, que já começa a surpreender pelo título, já que amar não é um verbo intransitivo, e sim transitivo direto. Talvez seja essa uma forma de subverter ou desprezar a gramática dita correta, talvez uma forma de dizer que o ato amar é independente de objeto. Talvez os dois.