quarta-feira, 2 de abril de 2014

Arte

Arte. Conforme ouve-se em relatos populares, ela realmente tem vida própria. O que ninguém sabe é que ela é muito maior do que se imaginava. E, todavia, do contrário do que se concebia, ela está na parte branca da folha. Sim. Não é no bico da caneta, riscos, pautas, réguas, grafite, tintas... Estes são reles filtros de passagem da verdadeira Arte Branca, que vem vertendo infinita e incontrolável pelas janelas do papel.
Vem como um assovio na boca de um garotinho aprendendo a assoviar, furtando o vento entre seus lábios, roubando do alvo ruído uma canção.
E não adianta riscar toda folha, em algum lugar ela sempre estará. Não adianta amassar. Jogar no lixo. Não adianta esconder-se da brancura da folha como escondeu de tua maturidade o medo do escuro que tiveste quando criança. Dê-me uma folha em branco e "entenderás porque temeste tanto a escuridão". Então, aprenderás também a "amar as tempestades, ao invés de fugir delas" e que entre o céu, o Tempo, a Morte e a Terra, existem muito mais coisas que nossa vã filosofia concebe. E ainda sim, caberão todas na folha sempre branca que me nasceu pregada aos olhos.
A vejo feminina e imaculada. Dá-me uma folha em branco e entregarás a chuva de volta para as nuvens, o ruído rosa de volta ao relâmpago.
Esse é meu ofício, meu habitat, está é minha noite branca.


(Alberto Ritter Tusi)



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