quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sem Vírgulas

(Trago a vocês mais um poema da talentosa Anna! Espero que apreciem!)


sem vírgulas

asfaltos de mesmas cores revezam-se sob minhas pupilas
luzes noturnas que se desprendem do sol morto
os mesmos erros cometidos com as mesmas amareladas vistas
passeio sobre são paulo e o que vejo é tudo
passos a mais, passos a menos, as mesmas cidades
é tudo mais do mesmo

baianas chacoalham suas brancas náguas
homens de preto com suas mesmas maletas de dinheiro verde-pântano
mulheres fracas cujas tetas moles já não jorram sucos brancos que adiam a morte:
suas crianças sentem fome, seus estômagos de mãe sentem fome

pobres coitados de caídas pálpebras arrastam seu lamúrio gosmento pelos bairros
assassinos magnatas esbravejam tons tenores querendo trepidar vibrações maléficas entre os tímpanos da população:
atrituam dores vermelhas, ásperas - são como instrumentos de corda

inocentes meninas esperam legos cor de rosa para encaixar em seu coração
o petróleo lânguido a escorrer pelos poros ébrios do poeta devasso cujo coração é preto
as calçadas continuam a pulsar gente a gritar consumos falsificados para sobreviver:
as garras de luta são de toda parte

tudo é tão igual
tão animal, visceral
as entranhas corroídas são as mesmas
os nervos pulsantes de veneno têm a mesma cor
as vidas derretidas têm os mesmos princípios
a futilidade encontra-se fatídica no ser igual
o fio lógico é que eu não sei onde está
o fim é que eu não sei onde está


(Anna Carolina Magagnin)


Para mais escritos: http://lampejosmalditos.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Merece Anna! Gosto de dividir com as pessoas as coisas que aprecio, como os teus escritos :)

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