sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Português da Gente



Depois de participar de algumas aulas da disciplina de Conceitos Básicos de Linguística, aprendi a dar mais atenção ao assunto língua. Um ponto importante que muito foi debatido é a diferença entre fala e escrita... Pensando nisso, é que divido com vocês o texto abaixo, extraído do livro "O Português da Gente: a língua que estudamos e falamos". Trecho este, que segundo a professora Elisa "trata da variação na escrita, do uso de diferentes formas de expressão (técnica, formal, informal) de acordo com o gênero de texto. Aqui, gênero de texto está para situação comunicativa: a variação resulta de diferentes situações de uso da língua. Se é assim, a língua não é uma só, não é apenas A forma culta, há "formas cultas" ou diferentes manifestações escritas, dependendo do gênero do texto. Moral da história: até mesmo na língua escrita há variação, quem dirá na língua falada... É uma  informação que ajuda a desfazer a ideia monolítica de língua."

Os Gêneros

Todas essas observações convergem para um mesmo ponto: a ideia de que existe uma "gramática do falado", que não coincide com a "gramática do escrito". Essa é uma das principais descobertas feitas desde que se começou a explorar a variação diamésica das línguas, mas não é a única. Na variação diamésica podemos também enquadrar outro importante fator de variação da língua: o gênero discursivo. Conforme o gênero a que pertencem, os textos, sejam eles falados ou escritos, apresentam um vocabulário e uma gramática próprios.
Ao falar em gênero aqui, não estamos pensando em gênero literários, mas sim em tipos de textos que podem ser encontrados na vida de todos os dias, e que se caracterizam por ter determinadas funções  e por ter como autores e receptores indivíduos que compartilham interesses mais ou menos previsíveis. Perguntemo-nos, por exemplo: como é a língua de um discurso político? Como é a língua da burocracia? Como é a língua que se escreve nos jornais e nas grandes revistas de informação e entretenimento? Como são escritos os ensaios "científicos" (entre eles, as teses e dissertações ligadas aos graus acadêmicos e à carreira universitária)? Como se exprimem os usuários do e-mail e dos grupos de chat que surgiram depois do advento do computador? como são apresentadas as informações nas páginas da internet?
Não há necessidade de análises aprofundadas para perceber que esses diferentes gêneros têm uma tradição própria e utilizam uma linguagem fortemente marcada pela natureza do veículo adotado em sua transmissão.
[...]
Todos esses gêneros, além de ter marcas exteriores próprias, e de obedecer a convenções interpretativas próprias, fazem também um uso muito particular da língua, chegando às vezes a desenvolver uma sublíngua exclusiva.
A sublíngua de um gênero caracteriza-se normalmente não só pela frequência maior de certas palavras, reflexo de uma inevitável concentração em determinados temas, mas pode ser marcada também pela alta frequência de construções gramaticais que não seriam comuns em outros gêneros. De novo, estamos falando de coisas que pertecem à nossa experiência diária: talvez o leitor se lembre da primeira vez que precisou ler um boletim de ocorrência policial (e ficou pasmado em ver que seu carro não vinha na mão, mas  procedia pela mão de direção, ou que todo indivíduo de comportamento suspeito foi  imediatamente reclassificado como um elemento); ou talvez o leitor se lembre da primeira vez que precisou ler o manual que, segundo dizem, "orienta" o preenchimento da declaração do imposto de renda para pessoas físicas e achou que estava lendo um texto de língua estrangeira: são situações pelas quais muita gente já passou e que têm em comum uma sensação de estranhamento causada pela linguagem. Esse "choque" é o melhor sintoma de como é difícil lidar com a variação diamésica da língua.


Referência Bibliográfica

ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O Português da gente: a língua que estudamos a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006, pg. 185)

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