segunda-feira, 30 de maio de 2011

A VOLTA DO SENHOR

Há muito, muito tempo, estou preso em um lugar escuro e frio. Esse lugar é minha casa. Não tenho muita coisa a fazer. Passo dias, meses e milênios deitado em minha cama. Não passo fome nem sede; tenho aqui um suprimento de comida sem graça e de gosto entediante, e água parada e suja.
Ouço passos vindos do outro lado da parede. Não é ele. O som e a frequência das passadas não são os mesmos que eu conheço. Eu grito. Após algum tempo, o som para.
Sem algo para fazer, ando pela casa sem rumo. Estou com vontade de urinar. Vou ao banheiro. Volto à minha cama. O tédio é absoluto. Estou aqui há milhões de anos e aqui ficarei por toda a eternidade.
Não! A espera termina. Ele chegou! A porta se abre, as sacolas são depositadas no chão e as luzes são acesas. Com a felicidade, deixo escapar um grito. Meu senhor está de volta. O mundo é um lugar mais feliz. Nada mais pode dar errado, pois ele está aqui.
Pulo sobre ele, tentando lamber seu rosto. Ele me acaricia e me abraça, e meu rabo foge do controle; balança para lá e para cá, como se tivesse vida própria.
Meu senhor sai de perto de mim e fecha-se em seu próprio quarto. Estou à frente da porta há milhões de anos, e algum dia talvez essa porta se abra e meu senhor retorne. 


(Gabriel R. Borges)



.

Um comentário: